Com avanço físico de 63,5% em dezembro do ano passado e investimento direto da Eletrobras de R$ 8,5 bilhões, a Usina Nuclear Angra 3 demandará ainda investimentos da ordem de R$ 18,5 bilhões para ser concluída em novembro de 2026. A previsão é acrescentar ao sistema elétrico nacional 1.405 megawattts (MW) de energia.
Em teleconferência para apresentação dos resultados de 2020 da Eletrobras feita hoje (22) a analistas e investidores, o ex-presidente da companhia e atual membro do Conselho de Administração, Wilson Ferreira Júnior, disse que Angra 3 tem o contexto regulatório necessário para o avanço das obras.
Parte disso está sendo viabilizado por meio da capitalização da Eletrobras, que permitirá participação de sócios privados, mencionou o ex-presidente. Ele diz esperar que a licitação internacional para atrair investidores para conclusão das obras, lançada em fevereiro deste ano, seja realizada no final do primeiro semestre deste ano.
Ferreira Júnior esclareceu que a retomada das obras da usina de Angra 3 que estão paralisadas há muitos anos, chamada de “caminho crítico”, foi decidida pela empresa no ano passado, quando definiu um valor para que o caminho crítico pudesse atingir 75% das obras. Em 2020, a Eletrobras desembolsou R$ 1 bilhão no projeto e, para 2021, a meta é liberar R$ 2,5 bilhões.
Ferreira Júnior diz acreditar que Angra 3 vai atrair financiamentos compostos de recursos nacionais e estrangeiros. Do mesmo modo, o conselheiro não tem dúvida de que a obra será feita em cooperação entre empresas brasileiras e internacionais.
O edital de contratação das obras civis e parte da montagem eletromecânica faz parte do Plano de Aceleração do Caminho Crítico da usina nuclear. Está sendo concluída a contratação de consultoria especializada para apoio à área de integridade do empreendimento.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) está realizando estudos para apresentação de alternativas para Eletrobras e suas subsidiárias Eletronuclear e Itaipu. Ferreira Júnior informou que a operação mais óbvia é a de um processo de cisão da Eletrobras. “Você cria uma empresa Eletrobras B e coloca Eletronuclear e Itaipu em baixo. Os acionistas são os mesmos. É como se fosse uma empresa espelho, em que ficasse de um lado a Eletrobras B atual e de outro a Eletronuclear e Itaipu. Os mesmos acionistas ficam donos desses dois ativos, com a participação que têm hoje”, explicou. Ferreira Júnior lembrou que hoje 38% do capital da Eletronuclear e Itaipu são pulverizados no mercado. As duas companhias vão ter a mesma estrutura, ficando com o governo 62%.
Já a operação mais simples faz um valuation (avaliação do valor) da Eletronuclear com a perspectiva de Angra 3. Como se trata de uma empresa com 50% de ações ordinárias e 50% de preferenciais, basta ao governo adquirir 51% de ações ordinárias para deter o controle. A Eletrobras ficaria com o valor remanescente, ou seja, todas as ações preferenciais e 49% das ordinárias. O mesmo ocorre em relação ao capital social de Itaipu. “Lá atrás, a Eletrobras depositou US$ 50 milhões, valor que é atualizado anualmente e dá remuneração obrigatória da usina de Itaipu na base de 12% ao ano. Esse ativo, que são os US$ 50 milhões, é que tem de ser objeto dessa transferência”, destacou.
Nessa operação simples, o governo cria uma empresa pública que vai deter o capital social que a Eletrobras detém hoje em Itaipu e o controle, representado por 51% das ações ordinárias da Eletronuclear. “Essas são as duas possíveis operações que eu vejo hoje”, disse o conselheiro da Eletrobras.
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