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Oscar: suas concessões, polêmicas e injustiças

A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, popularmente conhecida como Oscar, comemorou em 27 de maio seus 97 anos, e é indiscutivelmente a maior honraria da indústria cinematográfica. Neste segundo semestre já começa a sequência de estreias para a corrida ao Oscar 2025.

08/07/2024 às 12h49
Por: Ana Paula Costa Fonte: Assessoria
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Imagem/Divulgação.
Imagem/Divulgação.

Por Herick Diener / Ana Lopes

Ao longo das décadas a premiação esteve frequentemente envolvida em diversas polêmicas e injustiças como a falta de diversidade entre seus indicados, artistas premiados mais pelo conjunto da obra ou quantidade de indicações do que por merecimento, segundo público e críticos.

A cerimônia tem sido alvo de críticas e controvérsias devido a várias injustiças percebidas na escolha dos vencedores e indicados.

Dentre os casos mais notáveis foi o que resultou, em sua 88ª edição, a iniciativa #OscarSoWhite - movimento que buscou aumentar a representatividade de artistas negros nos filmes selecionados para o Oscar, após dois anos consecutivos sem nenhum artista negro indicado nas categorias de atuação.

Também houve protestos quando premiou atores publicamente acusados de assédio, como Casey Affleck por "Manchester à Beira Mar" em 2017, e Gary Oldman por "O Destino de Uma Nação" em 2018.

O acesso a internet , o crescente uso das redes sociais e a reação crítica instantânea do público, tem levado o “Oscar” a fazer diversas concessões em seu modus operandi de quase um século.

Em um exemplo recente, na 95ª edição do prêmio, Michelle Yeoh, atriz malaia-chinesa, conquistou sua primeira indicação ao Oscar na categoria de Melhor Atriz por seu trabalho em "Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo", após rondar o prêmio em duas outras ocasiões, na década de 2000, com os filmes "O Tigre e o Dragão" e "Memórias de Uma Gueixa".

Michelle, consciente das críticas populares sobre as injustiças da academia,  compartilhou em sua rede social, na véspera do fim da votação, um artigo da Revista Vogue norte-americana que fazia uma crítica a falta de diversidade entre as vencedoras da categoria na qual a atriz concorria.

O artigo mencionava diretamente sua principal concorrente, Cate Blanchett, que já havia ganhado três das principais premiações da indústria cinematográfica naquela temporada - o Globo de Ouro, o Critics Choice e o Bafta - por seu desempenho em "Tár", e Cate já tinha em sua estante dois Oscars: o primeiro de Melhor Atriz Coadjuvante por "O Aviador", em 2005, e o segundo de Melhor Atriz por "Blue Jasmine", em 2014.

A publicação de Michelle, apagada posteriormente devido a críticas e possíveis violações de regras, argumentava que vencer o Oscar mudaria a sua vida, enquanto para Blanchett seria apenas, mais uma, confirmação de seu prestígio na indústria.

O prêmio de Melhor Atriz, na edição citada, foi para Yeoh, tornando-a a primeira asiática a vencer a categoria. "Esta é a prova de que sonhos grandes se tornam realidade", declarou em seu discurso.

Na edição seguinte, o mesmo, parece que aconteceria novamente: Emma Stone, indicada por “Pobres Criaturas" havia ganho as três principais premiações da temporada, enquanto Lily Gladstone, indicada por “Assassinos da Lua das Flores” era frequentemente citada em artigos que discutiam a importância da representatividade de uma atriz indígena vencer a premiação pela primeira vez, enquanto Emma caminhava para sua segunda vitória após ganhar a edição de 2017 por "La La Land". No entanto, a façanha não se concretizou. O prêmio de Melhor Atriz da 96ª edição foi para Emma Stone.

Na década de 80, a academia protagonizou um dos casos mais populares do chamado 'Oscar pela carreira', quando a veterana Geraldine Page, em sua oitava indicação, de Melhor Atriz,  por "O Regresso Para Bountiful", derrotou a favorita da temporada Whoopi Goldberg, indicada por “A Cor Púrpura”, fazendo com que Goldberg voltasse para casa de mãos vazias.

Vinte e três anos depois, Glenn Close, ícone do cinema, televisão e teatro, com 3 Emmys e 3 Tonys, não teve a mesma sorte que Page, sendo preterida pela estreante em nomeações Olivia Colman, que foi premiada por sua atuação em “A Favorita”.

As críticas de que a Close deveria receber a estatueta, não só por sua atuação mas pelo conjunto de sua obra tomou conta da temporada de premiações em 2018, onde Close conquistou o Globo de Ouro, o Critics Choice e o Sag Awards por seu papel em "A Esposa".

Glenn Close acumula atualmente oito nomeações sem nenhuma estatueta dourada.

Uma das críticas mais persistentes ao Oscar é a desigualdade de gênero. Durante décadas, poucas mulheres foram indicadas na categoria de Melhor Diretor. Até hoje, apenas sete

foram indicadas ao prêmio de melhor direção: Lina Wertmüller por “Pasqualino Sete Belezas” (1975); Jane Campion por “O Piano” (1993) e por “Ataque dos Cães” (2022); Sofia Coppola por “Encontros e Desencontros” (2003); Kathryn Bigelow por “Guerra ao Terror” (2009); Greta Gerwig por “Lady Bird: Hora de Voar” (2017); Emerald Fennell por “Bela Vingança” (2021); e Chloé Zhao por “Nomadland: Sobreviver na América” (2021). Apenas três venceram: Bigelow foi a primeira mulher a receber o Oscar pela melhor direção, em 2009, Zhao levou a estatueta em 2021, e Jane Campion em 2022. Esta disparidade destaca a sub-representação feminina em categorias chave da premiação.

O Oscar tem também um histórico de sub-representação de minorias étnicas e raciais.

Vários filmes considerados clássicos hoje foram injustamente ignorados ou esnobados durante suas respectivas temporadas de premiação. "Cidadão Kane" (1941), muitas vezes considerado um dos maiores filmes de todos os tempos, perdeu o prêmio de Melhor Filme para "Como Era Verde o Meu Vale".

Um Sonho de Liberdade ( 1995) foi indicado a sete Oscars, incluindo melhor filme, melhor diretor e melhor ator (Morgan Freeman), mas não levou nenhum, porém, foi aclamado pela crítica e, ao longo dos anos, ganhou o reconhecimento do público — é o título com melhor avaliação no site IMDb, especializado em cinema.

Diversos atores e atrizes de grande talento nunca ganharam um Oscar, apesar de carreiras notáveis e performances memoráveis. Peter O'Toole, que foi indicado oito vezes, nunca venceu uma estatueta competitiva. Alfred Hitchcock, um dos diretores mais influentes da história do cinema, nunca ganhou o Oscar de Melhor Diretor, recebendo apenas um prêmio honorário em 1968.

A decisão de premiar ou não certos filmes e indivíduos muitas vezes foi influenciada por questões políticas e culturais. Em 1973, Marlon Brando recusou o Oscar de Melhor Ator por "O Poderoso Chefão" em protesto contra a representação de nativos americanos em Hollywood e para chamar a atenção para a situação de Wounded Knee.

O Oscar, apesar de sua importância e prestígio, tem um histórico de injustiças que não pode ser ignorado. Estas injustiças refletem questões mais amplas dentro da indústria cinematográfica e da sociedade como um todo, como desigualdade de gênero, falta de diversidade e a influência de fatores políticos e culturais nas decisões artísticas. Movimentos recentes e mudanças dentro da Academia são passos na direção certa, mas ainda há muito a ser feito para garantir que o Oscar seja verdadeiramente justo e representativo do melhor que o cinema tem a oferecer.

Herick Diener é publicitário, amante e pesquisador de cinema.

www.instagram.com/herickdiener

 

Ana Lopes é jornalista, redatora e crítica de cinema.

www.instagram.com/analopes9

 

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